New Queer Cinema

New Queer Cinema

Entre 6 e 25 de setembro, a Caixa Cultural abre as portas para a segunda onda do Queer Cinema.

A mostra New Queer Cinema traz produções de diversos países realizados entre meados dos anos 1990 e início dos 2000, comprovando uma ampliação em escala global de filmes que colocam em cena questões ligadas aos gêneros e performatividades.

Dois debates ainda complementam a mostra.

Dia 15, às 19h

A segunda onda do New Queer Cinema e esquemas de circulação. Com Ilda Santiago (programadora, diretora do Festival do Rio), Luiz Carlos Oliveira Junior (pesquisador, crítico de cinema), Ruy Gardnier (pesquisador, critico de cinema) e mediação de Mateus Nagime (curador da mostra).

Dia 22, também às 19h

Questões de gênero: a segunda onda do New Queer Cinema. Com Fernando Pocahy (professor UERJ), Mariana Baltar (professora UFF) e mediação de Denilson Lopes (curador da mostra).

A programação completa está em 

http://www.newqueercinema.com.br/

3 notas para A Seita (André Antônio, 2015)

3 notas para A Seita (André Antônio, 2015)

Por: Mariana Baltar

O Festival do Rio desse ano permitiu muitos encontros interessantes. Entre eles, a sessão do primeiro longa do coletivo Surto & Deslumbramento, dirigido por André Antônio, A Seita. Uma sessão instigante que foi completada pelo excelente curta de Isaac Pipano, Imóveis (filme incrível para pensar sobre as relações de mobilidade e estagnação nas metrópoles contemporâneas)

a seita. surto e deslum

Dentro do projeto Cine Encontro, fui convocada a falar algumas coisas sobre A Seita, mediando um debate na sessão que aconteceu no Centro Cultural da Justiça, dia 10 de outubro.

Compartilho aqui algumas notas do que o filme me disse:

São várias as chaves de leitura de um longa como A Seita – pela sua proposta alegórica, pelas escolhas de sua mise-en-scène, pelos diálogos críticos com uma tradição do modo de excesso, pela proposta geral das obras do “deslumbramento” (ver www.deslumbramento.com) que apostam no deboche como forma de dar a ver e sentir os poderes de uma vida queer, viada e de “fabulosidades”.

Com isso em mente, levantei três pontos que a partir do filme falaram mais comigo:

1. Elogio ao Excesso

A Seita não tem medo de assumir o modo de excesso – sobretudo como elemento estético presente na visualidade do filme. Fica visível a partir do diálogo camp na ótima direção de arte e figurino – que remete a um conjunto de referências de um cinema do glamour do clássico-narrativo. Penso claro na visualidade do melodrama clássico, na forma como na Seita o personagem se harmoniza com o cenário quando está na segurança de seu ambiente privado/doméstico – lembro das cenas repetidas vezes (a repetição em si um dos elementos do modo de excesso) em que ele coloca flores ao pé do quadro, toma chá em lindo roupão azul na sala azul. ou a cama em seu quarto emoldurado pelo drapeado da cortina vermelha com filetes de doutorado. O uso excessivo ao longo do filme de uma paleta vermelha e azul (passando por todos os roxos e púrpuras) vai falar dos prazeres dessa cinema de sentimentos exacerbados da vida doméstica, privada e elogiosa do indivíduo.

O próprio diálogo com os gêneros narrativos mais clássicos (reino do excesso narrativo), na Seita será presentificado pela ficção científica como mote alegórico do decadentismo de um mundo que precisa reencontrar sua faculdade de sonhar (e esse mote da ficção aparece no enredo simples da Recife de 2040 onde seus habitantes, ao contrário dos moradores das colônias espaciais, ainda mantém o “fofo” hábito de dormir e, com isso, conseguem sonhar.

A Recife futurista da Seita são as paisagens da ruína urbana da Recife contemporânea, vistas em planos imóveis dos prédios abandonados, destruídos pelo descaso, desuso e pela ação política do tempo (aliás aqui, estranhamente A Seita se encontra com o curta de Pipano, Imóveis, que completou a sessão do Festival do Rio)

Todo esse elogio ao excesso não é total adesão a ele como forma narrativa e de encenação, pois no filme essas referências coexistem com uma lentidão densa, com silêncios, com diversos momentos em que a câmera pouco se importa com o desenvolvimento dramático do enredo e os personagens são meros corpos-motes para vestir com certo ar de tédio desdramatizado até as referências aos Dândis e bichas que habitaram nosso imaginário da modernidade.

A Seita coloca em cena paradoxos em termos de projetos de cinema mas também na sua alegoria e por isso que ele nos convida a pensar a partir da figura do Dândi, pois tal figura é a encarnação da força paradoxal das crises. E esse é meu segundo ponto de observação.

2. O imaginário do Dândi como chave de entendimento do que alegoricamente está colocado no filme

O Dândi futurista de A Seita é a encarnação de como Charles Baudelaire vai descrever e pensar sobre essa figura da modernidade ocidental. Em O Pintor da vida moderna, textos escritos por Baudelaire para o periódico Le Figaro ao longo de 1863, o autor francês dá as pistas para o papel do Dândi.

O livro aliás que aparece no filme (numa sequência nos primeiros de minutos mais ou menos, onde a câmera, com seu movimento pendular de olhar errático que foge do centro dramático da cena (o diálogo entre o protagonista e um de seus amantes) faz questão de enquadrá-lo em primeiro plano por duas vezes.

Nestes textos, Baudelaire nos diz de uma figura fundada na modernidade e que representa em seu corpo (gestos e vestes) a ambivalência do desejo moderno de ser ao mesmo tempo produtivo, racional, industrial e belo, feliz, livre, indolente. O sujeito moderno parece “ter que ser” muita coisa ao mesmo tempo e por isso, diante destas pressões paradoxais intensas, o Dândi assume a frivolidade e o tédio como respostas a tais pressões.

Assim, seguindo a pista de Baudelaire, diria que o corpo e a atitude Dândi são um retrato de uma das formas de lidar com uma época marcada pelo tempo industrial, o concreto cinza, a velocidade do trabalho, as deformações das austeridades no/do corpo acrescidas ao desejo de sonhar, de ser individual, de ser criativo, de ser feliz.

No início do texto, Baudelaire cita o dizer de Stendhal de que “o belo não é senão a promessa da felicidade” e o Dândi parece afirmar, através do anacronismo démodé de suas vestimentas e gestos, a utopia dessa felicidade do belo.

Mas o Dândi é em si uma figura ambivalente, ele encarna os paradoxos dos tempos de incertezas e crise, da própria modernidade. O Dândi futurista de A Seita é alegoria camp do contemporâneo onde as incertezas e paradoxos da crise estão atravessados por um jogo de referências alusivas que mistura massivo e erudito, que mistura projetos de cinema moderno e pós-dramático com os excessos visuais.

Do moderno e pós-dramático temos: um comportamento da câmera que ignora o centro da ação com um olhar quase autônomo, uso dos silêncios, opção menos narrativa na composição da cena, da montagem e dos diálogos, encenação nada naturalista e explicitamente artificial dos atores…

Do diálogo com o modo de excesso temos: imagens símbolos, as repetições de gestos, cenas, paletas de cores, visualidades camp, o próprio diálogo no enredo com os gêneros cinematográficos mais massivos – aqui no caso a ficção científica – a trilha sonora monumental das cenas de abertura do filme (em franco contraste com a própria imagem imóvel dos prédios em ruínas)…

3. Pelos poderes do deboche e das misturas

O Dândi em si é uma figura que se presta ao excesso a despeito de sua atitude entediada.

“Que o leitor não se escandalize com essa gravidade do frívolo, que se lembre de que há uma grandeza em todas as loucuras, uma força em todos os excessos” (Charles Baudelaire In. O Pintor da vida moderna, 1863, página 871)

e pensar a partir do Dândi nos faz recolocar o A Seita no contexto das produções de Surto e Deslumbramento pois a ambivalência frente ao elogio ao excesso é fundamental para pensar o projeto estético do coletivo de Recife sobretudo no uso do deboche como armas de uma política de gêneros em defesa de uma “sensibilidade viada”.

still metropoles.surto

Os outros filmes do coletivo – penso por exemplo em Metrópolis (Sócrates Alexandre, 2013) ou Como era gostoso o meu cafuçu (Rodrigo Almeida, 2015) – trazem as marcas desse deboche que é em si a força política dos poderes do excesso: na mistura entre massivo e erudito, na recusa ao bom-mocismo, aos padrões estéticos, e com isso um elogio, também debochado, à “fabulosidade”.

O projeto que atravessa os filmes do Surto & Deslumbramento tem o poder de expor modos de vidas e sensibilidades queer através dessa mistura debochada. A mistura aqui é de projetos fílmicos e sensibilidades que traduzem mais que gostos, modos possíveis de sentir o mundo. A “mistura” que atravessa os filmes se apresenta nas referências por exemplo a um tipo de filme vinculado às vanguardas dos anos 1960 e 1970 – penso mais obviamente a Andy Warhol – alinhavadas lado a lado ao claro gosto camp pelo cinema clássico, pelo artifício, pela música brega pano de chão, pelo massivo.

3 notas para A Seita (André Antônio, 2015)

A Seita (André Antônio, 2015) – ou O Dândi futurista . ou Excesso, glamour e ruínas

a seita. surto e deslum

A Seita (dirigido por André Antônio, 2015) – uma produção do coletivo pernambucano Surto & Deslumbramento (http://www.deslumbramento.com/) faz sua estreia purpurinada no Festival do Rio.

e no sábado, dia 10/10 – às 16h45 o Nex marca presença no debate sobre o filme no Centro Cultural da Justiça Federal.

“Que o leitor não se escandalize com essa gravidade do frívolo, que se lembre de que há uma grandeza em todas as loucuras, uma força em todos os excessos” (Charles Baudelaire In. O Pintor da vida moderna, 1863, página 871)

As sessões:

* 09/10 – Cinépolis Lagoon 6 – 21h30.
* 10/10 – C. C. Justiça Federal 1– 16h45 (com debate mediado por Mariana Baltar – UFF).
* 11/10 – CCBB – Cinema 1 – 16h00.

Palestra: “Pornography, Documentary, Confession, Masturbation, Community” por Thomas Waugh

Os Programas de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura da UFRJ e o Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UFF têm a alegria em convidá-lxs para a palestra “Pornography, Documentary, Confession, Masturbation, Community” a ser realizada pelo Prof. Thomas Waugh (Concordia University, Canadá), no dia 3 de Agosto (próxima segunda-feira), às 19 hs., no Auditório da CPM da Escola de Comunicação da UFRJ (Campus da Praia Vermelha – Av. Pasteur, 250 fundos). A entrada é livre e gratuita. A palestra será em inglês sem tradução. Serão exibidos trechos de filmes durante a apresentação.

Thomas Waugh, nascido no ano de “Aag”, “Boogie-Doodle”, “Feeling of Hostility”, “Louisiana Story”, “Festim Diabólico”, “Poeira de Estrelas”, e de “La Terra Trema”, é Concordia Research Chair in Sexual Representation and Documentary e autor do clássico Hard to Imagine: Gay Male Eroticism in Photography and Film from their Beginnings to Stonewall (1996) bem como de The Romance of Transgression in Canada: Sexualities, Nations, Moving Images (2006), Montreal Main (2010) e das coletâneas de artigos Fruit Machine: Twenty Years of Writings on Queer Cinema (2000) e The Right to Play Oneself: Looking back on Documentary Film (2011). Ele também organizou Show Us Life: Towards a History and Aesthetics of the Committed Documentary (1984), Challenge for Change: Activist Documentary at the National Film Board of Canada (com Michael Baker e Ezra Winton, 2010), The Perils of Pedagogy: The Works of John Greyson (com Brenda Longfellow e Scott MacKenzie, 2013), Outlines: Underground Gay Graphics From Before Stonewall (2002), Lust Unearthed: Vintage Gay Graphics from the Dubek Collection. (com Willie Walker, 2004), Gay Art: A Historic Collection (com Felix Lance Falkon, 2006), e Comin’ At Ya! The Homoerotic 3-D Photographs of Denny Denfield. (com David L. Chapman, 2007). Em breve será publicado The Conscience of Cinema: the Film of Joris Ivens. Sua pesquisa atual decorre de uma perspectiva interdisciplinar sobre confessionalidade. Ele é também editor com Matthew Hays da coleção Queer Film Classics (Arsenal Pulp Press, Vancouver) e diretor da Concordia Community Lecture Series sobre HIV/AIDS, inaugurada em 1993. Para mais informações sobre o pesquisador consultar http://www.concordia.ca/finearts/cinema/faculty.html….
Para informações atualizadas sobre o evento favor consultar: https://www.facebook.com/events/1523681747921984/

3 notas para A Seita (André Antônio, 2015)

Nex frutos

Saindo do forno, um artigo que tem direta ligação com as discussões empreendidas no Nex.

http://www.compos.org.br/seer/index.php/e-compos/article/view/1042/789

Nesse artigo, tento pensar os diálogos possíveis entre o documentário e a pornografia partindo da ideia de mobilização de desejos e saberes presentes em ambos os domínios. O excesso é aqui um mobilizador de desejos de saber e de ver que se articulam na série Real People, Real Life, Real Sex, do realizador Tony Comstock. Damon and Hunter

Os filmes articulam documentário e pornografia em uma promessa de apresentação ao olhar público da intimidade dos seus personagens, performada a partir de falas e números sexuais. Nesse sentido, a ideia de um real associado ao excesso de visibilidade é reafirmada enquanto commodity e enquanto fonte de prazer visual e voyeurístico. Os filmes jogam com um desejo pelo “real” (que contemporaneamente parece se associar ainda mais com a ideia de intimidade partilhada, trazida a público, no excesso de visibilidade), desejo que é traduzido em promessa pela tessitura documental e pornográfica dos filmes.

Enfim, reflexões para circular, para debater.

E também para agradecer aos colegas do grupo de pesquisa pois certamente são ideias que ganharam corpo com os encontros.

Porque o cinza me dá preguiça; ou por uma literatura popular pornográfica

Porque o cinza me dá preguiça; ou por uma literatura popular pornográfica

Tenho que confessar que relutei muito a escrever qualquer coisa sobre 50 Tons de Cinza. Não pelos motivos habituais que fazem algumas pessoas torcerem o nariz para os livros e o filme, a despeito de seu sucesso comercial. Não pela falsa vergonha moralista que levanta reações chocadas de algumas e alguns. Antes de mais nada, preciso dizer que nem a franca pornografia, nem o BDSM do livro me assustam, chocam ou revoltam. Sou desde há muitos anos, mesmo antes de me aventurar pelas pesquisas do excesso, uma ávida leitora dessa literatura popular pornográfica. E, tal como Beatriz Sarlo em seu ótimo livro dedicado a essas “novelas sentimentales” (sob o incrível título de El imperio de los sentimientos), acredito firmemente na importância dessa literatura na formação da moral, do desejo e da educação sentimental. Tais livros, que vem de uma linhagem muito antiga e que tem nas famosas séries Julia, Sabrina e Bianca sua vertente mais popular-massiva; são fundamentais e há muito fazem o gozo das mulheres, seu público mais fiel, tradicional e explicitamente demarcado. Por seu sucesso, penetração (sim, podem rir do duplo sentido!) e longevitude enquanto produto popular-massivo merecem ser pensados e considerados sem preconceitos hipócritas de ordem moral e/ou estética (que imputam um olhar de nojo que perpetua distinções de gosto e classe).

São textos que se estruturam numa lógica cultural fundamental da modernidade e que dizem respeito às replicações de fórmulas de apelo (até elas mesmas se reinventarem), às construções visuais e excessivas de pronta identificação e engajamento, ao melodrama subliminar que as embala e com isso nos embala enquanto leitores. Engajamento sensório-sentimental que leva à projeção empática e ao gozo, em exemplos claros de uma pedagogia das sensações que educa desejos e sentidos. Como todo fenômeno moderno, é extremamente ambivalente na sua ação moralizadora. E talvez,   por isso mesmo, merece mais ainda nosso olhar cuidadoso, despido de falso moralismo e criterioso na reflexão.julia, sabrina e bianca

Desde adolescente, leitora ávida de Julia, Sabrina e Bianca, nada disso me passava pela cabeça. Entrava no jogo pedagógico do sentimento e desejo. Hoje, sigo jogando esse jogo mas, talvez, de modo mais consciente, sabendo das armadilhas, me deliciando ainda que de modo reflexivo com elas. E é com esse saber/experiência acumulada que posso dizer que 50 Tons de Cinza (livro e filme) me dá muita preguiça. É uma péssima pornografia, que, para além do fato de em português ter sido muito mal traduzido, suas coreografias sexuais deixam muito a desejar. Claro que como fenômeno, o livro e filme não estão sozinhos. Fazem parte de um amplo e muito interessante movimento que faz com que algo que era marginal/alternativo dentro do próprio campo do pornográfico vá cada vez mais se mainstreamizando. O BDSM agora figura em muitas das obras desse vasto mundo da literatura popular pornográfica, sem contar no aumento de entradas de tags desse lifestyle (como gostam de ressaltar seus praticantes) em portais populares de conteúdo adulto. E, claro, como bom fenômeno ambivalente que é, essa assimilação se dá sob a égide de uma força moral que a torna aceitável. E essa força ainda é o contrato amoroso e heterossexual. Em todos os exemplos – do péssimo 50 Tons, aos razoáveis livros de Sylvia Day e, finalmente, aos incríveis livros de Christa Wick e Jordan Bell – o lifestyle BDSM se justifica pelo amor heterossexual em um franco e, sim importante!, ensinamento da condição consensual (força aqui nessa palavra) de uma relação e a centralidade do prazer partilhado. O que 50 Tons faz, e é por isso que me dá extrema preguiça; é misturar esses ensinamentos com coreografias sexuais pouco excitantes e imaginativas e com personagens que reiteram o pior do discurso individualista contemporâneo que valoriza o dinheiro e o consumo como signos de felicidade e plenitude. Acrescenta-se a isso o fato de que os livros e o filme em nada questionam padrões de corpo, etnia ou classe.

“Ah, mas você tá querendo demais, quer politizar a pornografia”, podem reclamar alguns. E sim, quero politizar a pornografia porque desde de há muito ela própria, enquanto mercado e enquanto campo cultural em disputa, se politiza.

capas

Chego então ao que interessa. Finalmente. Amigas e amigos, de uma ávida leitora para ávidxs leitores, editores, tradutores: Tem coisa melhor nesse mundo da literatura popular pornográfica! Melhor naquilo que ela se propõe ser – popular-massiva, sentimental, romântica, instigadora de desejos e prazeres. Autoras independentes – algumas com auto-financiamento – que além de coreografias sexuais melhores conseguem expressar de modo mais complexo o jogo consensual que envolve o BDSM. E de quebra ainda trazem heroínas que fogem dos padrões explorando um outro nicho que aos poucos tem se mainstreamizado (embora ainda não tenha chegado amplamente ao mundo do espetáculo cinematográfico e audiovisual): as BBW (ou Big Beautiful Woman, mulheres gordas, cheinhas, com curvas, voluptuosas e outras tantas palavras usadas no texto para ressaltar de modo apreciativo seus corpos). Nesse sentido, a série de livros Training her curves, de Christa Wick , e The Curvy Submissive, de Jordan Bell e a Curvy Love Series, de Aidy Award são ótimos exemplos. Não se enganem, os livros seguem justificando tudo em nome do contrato amoroso e heterossexual, com direito a final feliz e declarações de amor eterno e monogâmico, encenando de um modo ainda que enviesado os desejos de família burguesa. Mas o fazem usando mão do BDSM, de um desenho de heroína mais empoderada e autônoma e abusando explicitamente de números sexuais que fazem parte da agenda da pornografia feminista (como a exaltação do sexo oral na mulher como fonte de prazer compartilhado e que coloca o prazer feminino no centro da ação). Essas três séries são alguns dos exemplos para além dos tons de cinza.

No mais, praticamente a melhor coisa que já vi sobre o filme foram as 5 razões das atrizes pornô da internet para odiarem 50 Tons de Cinza:

http://www.funnyordie.com/videos/3bcd4d7524/5-reasons-pornstars-hate-50-shades-of-grey

“Um insulto a pornografia”, dizem as atrizes. Assino embaixo.

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