por alepri | mar 24, 2014 | Mídia e Pornografia, NEX!!!
Excelente notícia para nossa área de interesses.
Periódico acadêmico dedicado aos estudos de pornografia finalmente é lançado. Faço parte do conselho editorial e posso atestar a seriedade dos artigos e autores.
A primeira edição estará grátis para consumo até maio, depois disso (e as próximas edições), apenas com subscrição.
Aproveitem
Porn Studies is the first dedicated, international, peer-reviewed journal to critically explore those cultural products and services designated as pornographic. It will develop knowledge of the history, modes, aesthetics, genres and subgenres of pornography, examining pornography’s institutional and industrial structures, its consumption and regulation.
Topics covered in the inaugural issue include research methods, psychology and pornography, and fair-trade and porn. Alongside articles, the journal includes a scholarly forum devoted to shorter observations, developments and issues in porn studies, designed to encourage exchange and debate.
The first issue will be free to view at www.tandfonline.com until 31st May, after which it will be available via subscription only. All future issues will also be via subscription only.
por alepri | mar 20, 2014 | NEX!!!

Semana que vem ocorrerá o “I Seminário Olhares Femininos: Gênero e Pós-pornô”.
Organizado pela ENECOS Coletivo Bonde do Rio e grupo Mulheres do IACS, o evento será sediado nos dias 24 e 25 de março de 2014, às 18h, no Auditório Interartes do Instituto de Arte e Comunicação Social (UFF), Niterói/RJ. No segundo dia, Érica Sarmet (PPGCOM/UFF) e Nayara Mattos (PPGCOM/UFRJ), integrantes do NEX!!!, estarão em uma mesa de debate sobre o tema. O evento é aberto ao público.
24/03
Cine-debate
Exibição dos filmes “Amor com a Cidade” (10′, Pornô Clown/SP) e “Mi Sexualidad es una Creación Artística” (Lucía Egaña Rojas, 46’/Espanha) *
Seguido de roda de conversa com Suane Felippe Soares, doutoranda em Bioética (PPGBIOS, UFRJ) e feminista.
25/03
Painel
Angela Donini, professora do departamento de Filosofia (UNIRIO)
Érica Sarmet, mestranda de Comunicação (PPGCOM, UFF), com o projeto Estética e Política no cinema pós-pornô
Nayara Matos, doutoranda de Comunicação (ECO, UFRJ)
Outras informações:
Executiva Nacional de Estudantes de Comunicação Social: http://enecos.com.br/
ENECOS Coletivo Bonde do Rio: https://www.facebook.com/pages/Enecos-Coletivo-Bonde-do-Rio/110449399016864?fref=ts
Comissão Organizadora
André F. R. Borba
Guilherme Alves
Isabella de Oliveira
Mariana Vita
Samantha Su
*A comissão organizadora sugere classificação etária acima de 18 anos para os filmes do dia 24/03.
por alepri | jun 23, 2013 | NEX!!!
Por Mariana Baltar

Nesses tempos de imagens impactantes circulando pelas mídias (as alinhadas à construção da hegemônica do senso comum e as nem tanto assim) me lembrei de um conceito fundamental de Jane Gaines que diz respeito ao pathos da realidade (pathos of actuality). A pulsão passional das imagens do calor do momento, vistas e revistas. Da importância e impacto mobilizadores de sensações e sentimentos dessas imagens, da sua força bruta. Pensei também nos usos da repetição incessante dessas imagens, usos que me parecem cambiar como inserts entre o afeto e o excesso.
Tenho voltado minha atenção para esse universo que se move entre essas duas margens: a do afeto e a do excesso. Tomos esses termos (afeto e excesso) como elementos distintos mas que mobilizam a dimensão corporal/sensorial do espectador.
Se de um lado desse rio de mobilizações, a margem do afeto se vincula a ideia de performance, entendida como expressão que se ampara no corpo e para o corpo ultrapassando o desejo de representação – “Na representação, a repetição dá luz ao mesmo; na performance, cada repetição encena um único evento”, escreve Elena Del Río.
Do outro lado, localizo a margem do excesso como movimento em direção ao desejo simbolizador que também se dá no corpo, mas reforçando (ainda que roce o campo da performance, no caso predominantemente espetacular) e instaurando representações e projeções empáticas em umasuperdramatização de movimentos que expressam estados sensoriais e sentimentais que, dado a ver audiovisualmente, inspiram no espectador se não os mesmos estados, algo bem próximo (conforme é possível enxergar na tradição fundante dos gêneros do corpo, como aprendemos com Linda Williams).
No excesso, reinam performances reiterativas e saturadas que somam elementos (de efeito de imagem, de velocidade de cortes, de inserções musicais…) às imagens e aos sons na busca por compor símbolos que representem, que marquem, e ao fazê-lo, acabem por explicar e explicitar visões e narrações.
No afeto, impera o que quero chamar de uma dimensãoperformo-afetiva das personagens na relação/encontro com a câmera numa economia narrativa de elogio ao fragmento, ao instante, aos silêncios e às reticências, formando instantes de quadros que expressam mas não condensam explicitações ou explicações. Mas entre uma margem e outra, circula o turbilhão de encontros (usos e apropriações) entre o afeto e o excesso. As imagens brutas das cenas das ruas pelo Brasil usadas repetidamente nas diversas mídias me parecem andar por essa circulação. Carregando emoções e sensações, cuja pulsão passional vai sendo (re)enquadradas nas diferentes visões sobre as manifestações, sobre o estado de coisas.
Mais uma vez, me interessa o que está fluindo por entre tais margens.
por alepri | ago 17, 2012 | NEX!!!
Por Mariana Baltar

Pensando alto enquanto retorno a História das Lágrimas de Anne Vincent-Buffault, antevejo o que poderíamos chamar de uma hierarquia do sensível estabelecida na passagem do século XVIII para o XIX. Personagens dessa hierarquia são, entre outros, Diderot e Senancour. Sobre esse último, a autora escreve: “fustigando severamente esta mania do sentimento, espécie de doença do fim do século XVIII, ele define-se claramente em um outro terreno. Ele diferencia aquilo que era frequentemente confundido, por exemplo em Diderot: a faculdade de enternecer-se e aquela de receber as sensações” (página 135). Ou seja, dissocia, eu diria, o sensível do sentimento, seccionando o lugar do sensível do excesso sentimental no século XIX. “O homem sensível deve preferir ao homem sentimental”, escreve Senancour. A partir daí, realmente uma peripécia na história das lágrimas; e essa personagem valorizada por ser pública, vistosa e ruidosa passa definitivamente a privada, contida e silenciosa. Acho que isso diz muito sobre o século XX, mas o que dirá sobre os tempos hipermodernos de hipertrofia espetaculosa do privado?
por alepri | abr 24, 2012 | NEX!!!
Por Mariana Baltar
Ao pensar na obra de Pedro Almodóvar raramente lembramos de A Flor do Meu Segredo. Ou se lembramos, a lembrança vem por último, quase invadindo a consagrada lista que certamente começa com Mulheres à beira de um ataque de nervos e termina com Fale com ela. Pura injustiça!, me dei conta esses dias. Tudo começou com o excelente seminário Recorrências na obra de Pedro Almodóvar, ministrado pelo Prof. Christopher Laferl que Tunico Amâncio e eu organizamos na UFF (uma parceria dos departamentos de Cinema e Vídeo e Estudos de Mídia)

Nas três palestras, o professor comentava sobre as recorrências temáticas, a auto referencialidade narradora, a paixão pela música massiva latina e, diria, mais que tudo o uso apaixonado do excesso. A forma como as narrativas de Almodóvar usam a música, as imagens saturadas (de cor e de símbolos) para presentificar e sumarizar estados emocionais e momentos chave na trajetória dos personagens e do filme. Tudo é colocado para a imediata compreensão (apreensão, melhor dizendo) do espectador. Apreensão passional que se transmuta em entendimento do fluxo narrativo. Modo de excesso em pleno funcionamento, arrebatando e engajando o espectador.
Em A Flor do Meu Segredo o excesso aparece em cenas belíssimas, na incrível fotografia de Afonso Beato, fazendo quadros dentro de quadros que lembram muito filmes de Douglas Sirk. Abusando de espelhos, janelas e grades para retratar/presentificar visualmente todo o aprisionamento passional da personagem e sua gradativa auto libertação e transmutação. uma novela de amor reforçada pela mise-en-scene a lá Sirk, pelas canções latinas – especialmente Bola de Nieve cantando Dolor e vida e pelos personagens e procedimentos típicos de Almodóvar.
A música é narradora tanto quanto os quadros, como fica intensamente claro na sequência em que Leo, em seu desespero pós-tentativa de suicídio, encontra Angel em meio a euforia de uma manifestação de estudantes de medicina. Um longo tilt up faz a transição daquele espaço e tempo de dissonância (entre agitação externa e desespero interno) para outro tempo e espaço em que Leo, já na casa de Angel, começa a se reencontrar, aos poucos. Na transição, Dolor e vida, planos ponto-de-vista a olhar pela janela e o reflexo da personagem. Os movimentos da câmera seguem rigorosamente a cadência da canção, pois aqui e agora, no filme, é a música de Bola de Nieva comanda catárticamente, como deve ser toda boa canção popular.
Nesse filme, duas coisas se sobressaem: a preciosidade da fotografia (no que me pareceu um excesso alusivo aos clássicos do melodrama doméstico de Sirk) e a teia de referências à própria obra de Almodóvar. Além de ser o filme que tematiza a transição estética do diretor – na figura de Leo, uma escritora de novelas sentimentais que vai abandonando esse repertório kitch/massivo para uma escrita mais séria ainda que igualmente afetiva(caminho que me soa análogo a da própria cinematografia de Almodóvar)- ; é o filme que antecipa Volver na figura de “Câmara Frigorífica”, uma das tais novelas sérias que Leo quer escrever, cujo mote é exatamente o plot de Volver e que é rejeitada pelos editores por ser realidade demais.
por alepri | mar 22, 2012 | NEX!!!
Por Locus.
Qualquer pessoa, independente de sua aquisição intelectual, consegue narrar e acompanhar narrativas de todos os estilos. O narrar parece congênito ao ser, tão natural quanto o impulso que nos conduz aos primeiros passos e tropeços. Somos educados através deste modo de expressão e isso nos compraz, mesmo que os temas relatados possam exceder o “limite do respeitável” (Williams). Quer dizer, até o velho “boi da cara preta que pega crianças que têm medo de careta” conserva em si um excesso narrativo, uma lógica que desafia a tradição realista.
Convocamos esta faculdade ao fabular qualquer evento banal de nossos dias através de um “olhar narrativizante” (Ricoeur) capaz de organizar e agenciar em atos e peripécias o que se sucedeu dentro de uma sequência lógica que comporta ações conectadas, motivações claras, tramas, unidades de ação etc. Algumas vezes, com o pretexto semi-aparente de demandar mais atenção, adicionamos outros elementos, valores, tons ou efeitos, exacerbando a realidade vivida; algo que de certa maneira pressupõe uma desorganização da lógica narrativa, ou seja, desvia-se das prescrições normativas que acompanham os inventos narrativos desde o tempo de Aristóteles.
Mas isso de maneira alguma invalida seu funcionamento. Estratégias narrativas que confrontam a normalidade podem estar comprometidas em construir um clímax sensacional e afetivo que gera prazer ao se “ver” aquela incoerência discursiva. Gêneros como o melodrama, o horror e a pornografia valem-se de excessos que muitas vezes burlam os valores de uma pedagogia moralizante – adquirida culturalmente através de hábitos de consumo de diversas narrativas. Este desvio se torna banal, não só no sentido de uma promoção negativa, mas como ranço do real.
Para problematizar conceitos da retórica do excesso e das prescrições narrativas clássicas, o NEX!!! continua suas atividades concentrando seus encontros no debate sobre teorias narrativas. O livro adotado para os próximos encontros foi ALTMAN, Rick. A theory of narrative. New York: Columbia University Press, 2008. Indagações sobre a definição de narrativa serão articuladas ao conceito de excesso para investigar algumas narrativas fílmicas contemporâneas que rompem com a tradição clássica ao oferecer um “espetáculo do corpo dado ver” em prol do “êxtase”.
O que é narrar? Como se conta sem dizer? Como se diz sem contar? O que é a presença excessiva nessas narrativas? Como a “mistura dos gêneros” pode ser uma formulação do excesso narrativo? O que é reiterado da tradição narrativa clássica? Como uma narrativa realista pode suportar excessos e manter-se fiel ao efeito de real que a singulariza? Por que o boi pega as crianças que têm medo de careta? Estas e outras questões irão balizar o trajeto de estudo do grupo.