Texto para a aula de amanhã: Carlos Gerbase

Olá,

segue abaixo link para download do texto que iremos discutir na aula de amanhã, “Imagens do sexo: as falsas fronteiras do erótico com o pornográfico”, de Carlos Gerbase, publicado na Revista FAMECOS,  nº 31, em dezembro de 2006.

Não faltem! Nossa segunda aula será na sala 303, bloco A, UFASA, no campus do Gragoatá, às 14h.

Download: clique aqui

Programa de aula

Universidade Federal Fluminense
Departamento de Estudos Culturais e Mídia
Disciplina: Mídia e Pornografia

Profs. Mariana Baltar (marianabaltar@gmail.com), Érica Sarmet (e.sarmet@gmail.com) e José Ramon (joseramondiazbenitez@gmail.com)

terças e quintas das 14h às 16h. Gragoatá, UFASA, Bloco A/ sala 303

Proposta: Discutir a construção social e histórica do campo da pornografia. A construção desde mercado e suas práticas de consumo, considerando questões relacionadas à segmentação no contexto específico do Brasil. Pensar também a pornografia como arena de disputas políticas na correlação com as artes e com o ativismo.

Formas de avaliação: a definir

Tópicos das aulas

Unidade I – Construção do campo

· Pornografia e erotismo
· Mudanças no estatuto social da pornografia
· Sensações e espetáculo do corpo e da intimidade – fetiches do real e netporn
· Códigos genéricos desde a tradição HardCore dos anos 70

Unidade II – Mercado e consumo

· A pornografia bizarra, a estética do grotesco e o estabelecimento do mercado (visceralidade e fetiches)
· Origens do pornô brasileiro – pornochanchada e boca do lixo
· Segmentação do mercado – os anos 1980 e o mercado de vídeo
· O bizarro e as estéticas do real
· Pornografia bizarra no contexto da internet

Unidade III – Política e arte

· Cultura libertina
· Pornografia e vanguardas artísticas
· Pornô e ativismo político – feminismo e cultura queer
· Pós-pornô e políticas fármaco-pornograficas
· Pós-colonialismo e a dissidência sexual na América Latina

Bibliografia

ABREU, Nuno Cesar. O olhar pornô: a representação do obsceno no cinema e no vídeo. Campinas: Mercado das letras, 1996.

ATTWOOD, F. ‘No Money Shot? Commerce, Pornography and New Sex Taste Cultures’,In: Sexualities, vol 10 (4): 441-456, 2007.

ATTWOOD, Feona. Reading Porn: the paradigm shift in Pornography research. In. Sexualities, vol. 5 (1), 2002.

BALTAR, Mariana. Evidência invisível – BlowJob, vanguarda, documentário e pornografia. In. Revista FAMECOS: mídia, cultura e tecnologia, Vol. 18, No 2 (2011).

BALTAR, Mariana. Femininas Pornificações. In. BRAGANÇA, Maurício de e TEDESCO, Marina (org). Corpos em Projeção: gênero e sexualidade no cinema latino-americano. Rio de Janeiro, 7Letras, 2013.

_______________. Princípio da dupla evidência o vídeo amador na interconexão entre pornografia e documentário. CANEPA, Laura. MÜLLER, Adalberto. SOUZA, Gustavo. VIEIRA, Marcel. XII Estudios de Cinema e Audiovisual – Socine, vol 1. São Paulo. 2011.

BUTLER, Judith. Problemas de gênero: Feminismo e subversão da identidade. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2010. 3ª Edição.

DARNTON, Robert. Os Best-sellers proibidos da França pré-revolucionária. Cia das Letras, 1998.

DIAZ-BENÍTEZ, Maria Elvira. Nas Redes do Sexo. São Paulo, Zahar, 2010.

DYER, RICHARD . Male Gay Porn Coming to Terms. In. Jump Cut, número 30, 1985

GERBASE, Carlos. Imagens do sexo: as falsas fronteiras do erótico com o pornográfico. In. Revista FAMECOS, nº 31, dezembro de 2006.

HUNT, Lynn Avery. Invenção da Pornografia. Ed. Hedra, 1999.

KENDRICK, Walter. The Secret Museum. Pornography in modern culture. Berkely, University of California Press, 1996.

LEITE, Jorge. Das maravilhas e prodígios sexuais. A pornografia bizarra como entretenimento. São Paulo: Fapesp-Annablume Editora. 2006.

__________.”A Pornografia contemporânea e a estética do grotesco” In: Revista Invisivel. Lisboa. 2011

LLOPIS, Maria. El Postporno Era Eso. Barcelona, Editorial Melusina, 2010

MELENDEZ, Franklin. Video Pornography, Visual Pleasure and the return of the sublime. In. WILLIAMS, Linda (org). Porn Studies. Duke University Press, 2004.

MISKOLCI, Richard. Teoria Queer: um aprendizado pelas diferenças – Col. Cadernos da Diversidade. Belo Horizonte, Autêntica Editora, 2012

MOREAES, Eliane Robert. Lições de Sade. Ensaios sobre a imaginação libertina. SP, Iluminuras, 2006.

NAULT, Curran . Bend Over Boyfriend to Take it Like a Man: pegging pornography and the queer representation of straight sex. In. Jump Cut: A Review of Contemporary Media , No. 52, summer 2010

OSTERWEIL, Ara. Andy Warhol’s Blowjob: toward the recognition of a pornographic avant-garde. In. WILLIAMS, Linda (org). Porn Studies. Duke University Press, 2004.

PAASONEN, Susanna. Labors of love: netporn, Web 2.0 and the meanings of amateurism. In: New Media Society, 2010.

PATTERSON, Zabet. Going On-line: consuming pornography in the digital era. In. WILLIAMS, Linda (org). Porn Studies. Duke University Press, 2004.

PELUCIO, Larissa. Subalterno quem, cara pálida? Apontamentos às margens sobre pós- colonialismos, feminismos e estudos queer. Contemporânea – Revista de Sociologia da UFSCar, v. 2, p. 395-418, 2012.

PRECIADO, Beatriz. Multidões queer: notas para uma política dos “anormais”. Rev. Estud. Fem., Abr 2011, vol.19, no.1, p.11-2.

SABO, Anne G. After pornified. How women are transforming pornography and why it really matters. Zero Books, 2012

SADE, Marques de. A Filosofia na Alcova ou os preceptores imorais. Tradução, posfácio e notas Contador Borges. SP, Iluminuras, 2008 (primeira publicação 1795).

SONTAG, Susan. A imaginação pornográfica. In: A vontade radical. Rio de Janeiro: Cia. das Letras, 1987. p. 41-76.

STRAAYER, Chris. The Seduction of Boundaries. Feminist Fluidity in Annie Sprinkle’s Art/Education/Sex. In. GIBSON, P. e GIBSON, R. (orgs). Dirty Looks. Women, pornography.Power. BFI Publishing, 1993.

WILLIAMS, Linda. Hard Core. Power, pleasure and the frenzy of the visible. University of California Press, 1989.

Não é carnaval ainda!

Não é carnaval ainda!

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A aula de Mídia e Pornografia, ministrada pelos professores Érica Sarmet, José Ramón Díaz Benítez e Mariana Baltar terá início amanhã, 25 de fevereiro de 2014, às 14h.

Pedimos a todos que compareçam no UFASA, bloco A, no campus do Gragoatá. Lá estará fixado no painel a sala onde ocorrerão as aulas.

Não faltem!

Não é carnaval ainda!

Entre o afeto e o excesso

Por Mariana Baltar

    

Nesses tempos de imagens impactantes circulando pelas mídias (as alinhadas à construção da hegemônica do senso comum e as nem tanto assim) me lembrei de um conceito fundamental de Jane Gaines que diz respeito ao pathos da realidade (pathos of actuality). A pulsão passional das imagens do calor do momento, vistas e revistas. Da importância e impacto mobilizadores de sensações e sentimentos dessas imagens, da sua força bruta. Pensei também nos usos da repetição incessante dessas imagens, usos que me parecem cambiar como inserts entre o afeto e o excesso.

Tenho voltado minha atenção para esse universo que se move entre essas duas margens: a do afeto e a do excesso. Tomos esses termos (afeto e excesso) como elementos distintos mas que mobilizam a dimensão corporal/sensorial do espectador.
Se de um lado desse rio de mobilizações, a margem do afeto se vincula a ideia de performance, entendida como expressão que se ampara no corpo e para o corpo ultrapassando o desejo de representação – “Na representação, a repetição dá luz ao mesmo; na performance, cada repetição encena um único evento”, escreve Elena Del Río.

Do outro lado, localizo a margem do excesso como movimento em direção ao desejo simbolizador que também se dá no corpo, mas reforçando (ainda que roce o campo da performance, no caso predominantemente espetacular) e instaurando representações e projeções empáticas em umasuperdramatização de movimentos que expressam estados sensoriais e sentimentais que, dado a ver audiovisualmente, inspiram no espectador se não os mesmos estados, algo bem próximo (conforme é possível enxergar na tradição fundante dos gêneros do corpo, como aprendemos com Linda Williams).
No excesso, reinam performances reiterativas e saturadas que somam elementos (de efeito de imagem, de velocidade de cortes, de inserções musicais…) às imagens e aos sons na busca por compor símbolos que representem, que marquem, e ao fazê-lo, acabem por explicar e explicitar visões e narrações.

No afeto, impera o que quero chamar de uma dimensãoperformo-afetiva das personagens na relação/encontro com a câmera numa economia narrativa de elogio ao fragmento, ao instante, aos silêncios e às reticências, formando instantes de quadros que expressam mas não condensam explicitações ou explicações. Mas entre uma margem e outra, circula o turbilhão de encontros (usos e apropriações) entre o afeto e o excesso. As imagens brutas das cenas das ruas pelo Brasil usadas repetidamente nas diversas mídias me parecem andar por essa circulação. Carregando emoções e sensações, cuja pulsão passional vai sendo (re)enquadradas nas diferentes visões sobre as manifestações, sobre o estado de coisas.

Mais uma vez, me interessa o que está fluindo por entre tais margens.

Não é carnaval ainda!

Ser sentimento e ser sensível

Por Mariana Baltar

Pensando alto enquanto retorno a História das Lágrimas de Anne Vincent-Buffault, antevejo o que poderíamos chamar de uma hierarquia do sensível estabelecida na passagem do século XVIII para o XIX. Personagens dessa hierarquia são, entre outros, Diderot e Senancour. Sobre esse último, a autora escreve: “fustigando severamente esta mania do sentimento, espécie de doença do fim do século XVIII, ele define-se claramente em um outro terreno. Ele diferencia aquilo que era frequentemente confundido, por exemplo em Diderot: a faculdade de enternecer-se e aquela de receber as sensações” (página 135). Ou seja, dissocia, eu diria, o sensível do sentimento, seccionando o lugar do sensível do excesso sentimental no século XIX. “O homem sensível deve preferir ao homem sentimental”, escreve Senancour. A partir daí, realmente uma peripécia na história das lágrimas; e essa personagem valorizada por ser pública, vistosa e ruidosa passa definitivamente a privada, contida e silenciosa. Acho que isso diz muito sobre o século XX, mas o que dirá sobre os tempos hipermodernos de hipertrofia espetaculosa do privado?

Não é carnaval ainda!

A flor do meu segredo

Por Mariana Baltar

Ao pensar na obra de Pedro Almodóvar raramente lembramos de A Flor do Meu Segredo. Ou se lembramos, a lembrança vem por último, quase invadindo a consagrada lista que certamente começa com Mulheres à beira de um ataque de nervos e termina com Fale com ela. Pura injustiça!, me dei conta esses dias. Tudo começou com o excelente seminário Recorrências na obra de Pedro Almodóvar, ministrado pelo Prof. Christopher Laferl que Tunico Amâncio e eu organizamos na UFF (uma parceria dos departamentos de Cinema e Vídeo e Estudos de Mídia)

Nas três palestras, o professor comentava sobre as recorrências temáticas, a auto referencialidade narradora, a paixão pela música massiva latina e, diria, mais que tudo o uso apaixonado do excesso. A forma como as narrativas de Almodóvar usam a música, as imagens saturadas (de cor e de símbolos) para presentificar e sumarizar estados emocionais e momentos chave na trajetória dos personagens e do filme. Tudo é colocado para a imediata compreensão (apreensão, melhor dizendo) do espectador. Apreensão passional que se transmuta em entendimento do fluxo narrativo. Modo de excesso em pleno funcionamento, arrebatando e engajando o espectador.
Em A Flor do Meu Segredo o excesso aparece em cenas belíssimas, na incrível fotografia de Afonso Beato, fazendo quadros dentro de quadros que lembram muito filmes de Douglas Sirk. Abusando de espelhos, janelas e grades para retratar/presentificar visualmente todo o aprisionamento passional da personagem e sua gradativa auto libertação e transmutação. uma novela de amor reforçada pela mise-en-scene a lá Sirk, pelas canções latinas – especialmente Bola de Nieve cantando Dolor e vida e pelos personagens e procedimentos típicos de Almodóvar.
A música é narradora tanto quanto os quadros, como fica intensamente claro na sequência em que Leo, em seu desespero pós-tentativa de suicídio, encontra Angel em meio a euforia de uma manifestação de estudantes de medicina. Um longo tilt up faz a transição daquele espaço e tempo de dissonância (entre agitação externa e desespero interno) para outro tempo e espaço em que Leo, já na casa de Angel, começa a se reencontrar, aos poucos. Na transição, Dolor e vida, planos ponto-de-vista a olhar pela janela e o reflexo da personagem. Os movimentos da câmera seguem rigorosamente a cadência da canção, pois aqui e agora, no filme, é a música de Bola de Nieva comanda catárticamente, como deve ser toda boa canção popular.
Nesse filme, duas coisas se sobressaem: a preciosidade da fotografia (no que me pareceu um excesso alusivo aos clássicos do melodrama doméstico de Sirk) e a teia de referências à própria obra de Almodóvar. Além de ser o filme que tematiza a transição estética do diretor – na figura de Leo, uma escritora de novelas sentimentais que vai abandonando esse repertório kitch/massivo para uma escrita mais séria ainda que igualmente afetiva(caminho que me soa análogo a da própria cinematografia de Almodóvar)- ; é o filme que antecipa Volver na figura de “Câmara Frigorífica”, uma das tais novelas sérias que Leo quer escrever, cujo mote é exatamente o plot de Volver e que é rejeitada pelos editores por ser realidade demais.

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