por alepri | mar 22, 2012 | NEX!!!
Por Locus.
Qualquer pessoa, independente de sua aquisição intelectual, consegue narrar e acompanhar narrativas de todos os estilos. O narrar parece congênito ao ser, tão natural quanto o impulso que nos conduz aos primeiros passos e tropeços. Somos educados através deste modo de expressão e isso nos compraz, mesmo que os temas relatados possam exceder o “limite do respeitável” (Williams). Quer dizer, até o velho “boi da cara preta que pega crianças que têm medo de careta” conserva em si um excesso narrativo, uma lógica que desafia a tradição realista.
Convocamos esta faculdade ao fabular qualquer evento banal de nossos dias através de um “olhar narrativizante” (Ricoeur) capaz de organizar e agenciar em atos e peripécias o que se sucedeu dentro de uma sequência lógica que comporta ações conectadas, motivações claras, tramas, unidades de ação etc. Algumas vezes, com o pretexto semi-aparente de demandar mais atenção, adicionamos outros elementos, valores, tons ou efeitos, exacerbando a realidade vivida; algo que de certa maneira pressupõe uma desorganização da lógica narrativa, ou seja, desvia-se das prescrições normativas que acompanham os inventos narrativos desde o tempo de Aristóteles.
Mas isso de maneira alguma invalida seu funcionamento. Estratégias narrativas que confrontam a normalidade podem estar comprometidas em construir um clímax sensacional e afetivo que gera prazer ao se “ver” aquela incoerência discursiva. Gêneros como o melodrama, o horror e a pornografia valem-se de excessos que muitas vezes burlam os valores de uma pedagogia moralizante – adquirida culturalmente através de hábitos de consumo de diversas narrativas. Este desvio se torna banal, não só no sentido de uma promoção negativa, mas como ranço do real.
Para problematizar conceitos da retórica do excesso e das prescrições narrativas clássicas, o NEX!!! continua suas atividades concentrando seus encontros no debate sobre teorias narrativas. O livro adotado para os próximos encontros foi ALTMAN, Rick. A theory of narrative. New York: Columbia University Press, 2008. Indagações sobre a definição de narrativa serão articuladas ao conceito de excesso para investigar algumas narrativas fílmicas contemporâneas que rompem com a tradição clássica ao oferecer um “espetáculo do corpo dado ver” em prol do “êxtase”.
O que é narrar? Como se conta sem dizer? Como se diz sem contar? O que é a presença excessiva nessas narrativas? Como a “mistura dos gêneros” pode ser uma formulação do excesso narrativo? O que é reiterado da tradição narrativa clássica? Como uma narrativa realista pode suportar excessos e manter-se fiel ao efeito de real que a singulariza? Por que o boi pega as crianças que têm medo de careta? Estas e outras questões irão balizar o trajeto de estudo do grupo.
por alepri | maio 10, 2010 | NEX!!!
Por Mariana Baltar
Nexianos do mundo, uni-vos em torno do excesso.
Começamos a pensar mais especificamente sobre esse mundo tão certo e tão obscuro ao mesmo tempo que é o excesso (o que é e como se comporta) nas narrativas. começamos discutindo o texto da Kristin Thompson e foi incrivel, espetacular (palavras excessivas, notem! mas como diz Mario de Andrade, é preciso exclamar para deixar a vida agir, ou algo do gênero).
uma reiteração de descobertas foi a noção de que a pedagogia moralizante se dá investida no universo propriamente narrativo dos discursos. e nesse sentido, se seguirmos as formulações da Thompson (inspiradas no ensaio de Barthes O terceiro sentido, que compoe O óbvio e o obstuso), não exatamente no elemento do excesso propriamente dito, embora, para o universo moralizante dos gêneros da trilogia das sensações, o excesso seja sim, central.
precisamos refletir melhor sobre isso, claro. convoco Fernanda, Erica e Bruno para fazerem seus post relatando o encontro e o texto da Thompson.
enquanto isso, seguimos, dessa vez estudando o próprio Barthes.
e, claro, seguimos correlacionando com a questão da serialização (vejam meu comentário ao post da Érica sobre narrativas pessoais!)de que modo o excesso da trilogia das sensações é de fato uma estratégia de fidelização para programas que são, cada vez mais, flexi-narrativos e flexi-gêneros?