“Isso aconteceu”, descrição e o efeito do real

Por Mariana Baltar

E nesse caminho, pensando a questão da descrição como central para a construção dos discursos (sejam estes excessivos ou realistas) trabalhamos dois textos do Barthes:

Efeito do real e O discurso da história;
 
De cara ele já nos propõe uma questão, que já estamos tateando a algum tempo em nossas reuniões: O que separa uma narração ficcional de uma narração do real? Seriam elas realmente distante e, portanto, facilmente distintas? E qual característica forjaria essa “separação”?
Dentro da retórica realista, o efeito de real é essencial para que se atinja o propósito de um discurso que pretende reproduzir a realidade. Daí a descrição é utilizada para inserir elementos e objetos que construam essa realidade, sem necessariamente dar/conter sentido- a descrição como vazio de sentido. No entanto, Barthes logo aponta a inconsistência de tal premissa: o que supostamente é apenas constatativo (descritivo), imprime no discurso, pois age nele como significante, a marca da ideologia, da autoridade do “ato de fala”.
A ilusão referencial (a ideia de “somos o real”/”isso aconteceu” ao qual discurso da história aspira e tenta construir através da descrição) , sustenta-se na ideia de que o referente, o real, não é significado pelo discurso; um referente onipotente que negaria significação.
Os detalhes, inseridos através da descrição, longe de serem vazios, indicam/geram leituras e/ou usos. Mesmo a “insignificância” tem seu significado.
Conversando chegamos duas formas de descrição que pretendemos analisar: uma a descrição adjetiva (clássica), da retórica do excesso, efeito de espetáculo/êxtase, que simboliza a moral oculta, satura e preenche; e a outra uma descrição substantiva (realista) que simboliza o efeito do real.
Outra questão: a Imagem é uma descrição ou uma narração? Ou seria ela ambas?
Propomos então um desafio para todos que queiram conosco embarcar nessa aventura:
– Onde está a descrição em um filme?
– O que é descrever em uma imagem/através de imagens e sons?
– O que caracterizaria uma descrição audiovisual de retórica realista? E a descrição de retórica excessiva, quais são suas marcas?
Coloco aqui, dois possíveis objetos de análise:
A abertura de True Blood, fortemente pautada em sensações
http://www.youtube.com/watch?v=vxINMuOgAu8
E a abertura da série inglesa Downton Abbey, na qual a função descritiva parece mais presente:
http://www.youtube.com/watch?v=3PNniUuVXGs
Podemos começar por eles, mas a ideia seria expandir a análise para filmes, principalmente os mais clássicos, e tentar construir respostas para as perguntas que colocamos.

O eterno problema das definições, ou melhor, quando definir

Por Mariana Baltar

Pensando a partir do ótimo post da Érica e das discussões no grupo. As definições de formato (e isso se aplica também aos gêneros) são úteis principalmente porque nos fazem pensar com e a partir das narrativas. mas como a reflexão da Érica tem demonstrado, elas não podem ser gavetinhas onde localizar os programas.

Uma coisa boa de pensar, e que é nossa linha de discussão no grupo, é que definir/classificar não é um processo fechado; não é uma resolução definitiva, mas um marco referencial que serve, mais ainda do que para definir os padrões, para nos ajudar a enxergar melhor os desvios e apreciá-los de modo mais intenso.
ontem mesmo estava lendo um texto do Roland Barthes que me lembrou essa discussão, onde ele teorizava sobre a noção de estilo. o texto era o O Estilo e sua imagem e está no Rumor da Língua em que ele diz: “Escrever é, então, deixar vir a si esses modelos e transformá-los“. Mais adiante, ele lembra que o estilo, mais que as marcas individuais, está ligado aos códigos, aos modelos (padrões) que citados e desviados (um “corpo de vestigios”, diz ele – ADORO!) conformam também um outro sistema estilístico. De modo correlato (vejam, não igual) podemos pensar os gêneros. (aqui vale ler principalmente Steve Neale) e formatos.
Acabei desviando do assunto, quando na verdade queria era chamar a atenção para a necessidade de relativizarmos (ainda que seja super importante) as definições e distinções como essas entre série, seriado e sitcom.
o que importa também é nos perguntarmos quando se define? quando somos convocados a definir e distiguir? e como essa definição orienta um sistema de produção (que no caso da ficção seriada é fundamental) e uma experiência de consumo determinada.
enfim, coisas que pensei a partir da ótima estruturação da Érica e do grupo.

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